segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Descoberta inesperada

   Quando eu tinha seis anos fui passar as minhas primeiras férias, sem os meus pais, com a minha tia de Cascais. Eu fui de comboio com a minha avó paterna para Lisboa e depois a minha tia foi-nos buscar à estação.
   Os meus pais pretendiam ir lá pôr-me, mas o meu pai estava a trabalhar noutra cidade sem ser aquela onde eu vivia com a minha mãe.
  Algum tempo antes, o meu pai contou-me que tinha sido despedido e, por isso, teria que procurar outro trabalho. Como eu era pequenina ainda não percebia aquilo que se passava realmente.
   Nesse dia, os meus pais foram pôr-me à estação de comboios e eles ainda não se tinham visto.
   Aí é que eu percebi…Eles não se cumprimentaram como marido e mulher, mas sim como duas pessoas normais.
   Foi a catástrofe! Eu vi, mas não disse nada, fingi que não tinha percebido para não ficarem preocupados.    
   Durante a viagem toda, pensei nisso, mas fiz como se não se passasse nada porque a minha avó iria mentir-me outra vez e eu não queria voltar a ser enganada.
   Quando cheguei a casa, corri logo para a casa-de-banho e chorei, chorei até que a minha tia me descobriu.
   Eu disse-lhe que tinha saudades dos meus pais; que não se preocupasse porque não era nada de grave.
   Estávamos em pleno Verão e eu, que adoro a praia, não quis ir até lá na primeira semana. Então, a minha tia perguntou-me várias vezes o que eu tinha, e eu contei-lhe tudo.
   Ela ficou muito preocupada comigo e telefonou à minha prima porque eu conto-lhe todos os meus desabafos.
   Fui dar um passeio com a minha prima até à praia e contei-lhe. Ela pensou que eu tinha tido um sonho mau e, sem eu saber, telefonou ao meu pai e perguntou-lhe se era verdade o que eu lhe tinha contado. O meu pai confirmou-lhe que as coisas não estavam muito bem entre ele e a minha mãe.
   Acabaram as férias e eu fui para a Covilhã. Passado um tempo, os meus pais foram tomar café comigo e contaram-me, mas eu não me atrevi a perguntar por que razão me mentiram.
   Foi difícil, tive de crescer sozinha e viver coisas sozinha.
   Até hoje não me atrevo a perguntar porque é que me mentiram.

Bárbara B., nº5

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