segunda-feira, 14 de março de 2011

A Estrada Larga (continuação da história)

-Ah!...Da Estrada Larga!...conta-me o que viste lá.
-É tão linda! – começou a Maria-Primavera. – A estrada reflecte a luz do sol, tornando-a luminosa. Sabes, nem vale a pena saber o seu destino. A estrada já é o destino. Algumas pessoas pensam que no fim da estrada há o fim da inocência, outros pensam que há o paraíso e ainda há aqueles que pensam que para lá da estrada não existe nada. A estrada é como um rio e, nas margens, existem árvores. Árvores essas que guardam ninhos: ninhos de pássaros e pombas brancas. São os pássaros da paz, da bondade e da Primavera. Repousam lá o dia todo, acariciados pelo sol e pelos ramos verdes e florescentes das árvores.
Ainda há as árvores douradas. Dizem que nelas existe toda a riqueza do mundo. Há também os campos das flores do amor. Quem se deita lá fica apaixonado pelo céu e pela vida. A estrada ensina-nos a não ficar presos num lugar. A seguir em frente e a não sentir ódio pelos outros, apenas a desfrutar da existência, da beleza e da poesia da vida.


Pedro Vidigal
Atenas, Grécia, 2 de Agosto de 2009

Queridos Pais,

Tem sido muito divertido passar o tempo com a avó e com os primos aqui em Atenas. Tem estado um calor de matar aqui: cerca de 45º, no mínimo.
Já visitámos várias ruínas e ilhas gregas. Visitámos umas que se chamam “Pedaços de Hércules”. Têm uma história interessante: conta a lenda que a mulher de Hércules ciumenta matou-o, cortou-o em pedaços e mandou os mesmos para o mar. Dizem que as Ilhas são esses pedaços. Daí a cor avermelhada da areia e das rochas.
Como estava a dizer, já visitámos vários sítios, mas o que nos apetece é estar na praia. Passamos a maior parte do tempo nela, a nadar no cristalino, azul e quente mar Egeu. Costumamos também apanhar conchas e búzios. Há muitos aqui. Também já andámos de Katamaram e muitas outras coisas.
As noites são divertidas. Há sempre festa ou algum espectáculo no Clubmed. Já até tomamos alguns banhos na praia de noite.


Adeus!
Com amor do vosso filho, Pedro.




Pedro Vidigal, nº 28, 6º 3.

A carta

Covilhã, 18 de Fevereiro de 2011

Olá, primo João e Luís,
Como vão vocês os dois?
Como está o tempo aí em Lisboa? A chover, até aposto. Bom, o tempo por aqui também não está muito diferente. Quero dar os parabéns ao João pelo 16 no teste de Matemática e, Luís, fico contente por teres passado de ano (chii, já não nos vemos mesmo há muito tempo). Estou a brincar. Fico contente pelas boas notas que, segundo a minha mãe, tu tiveste.
Nos últimos tempos, cá em casa, nada tem acontecido para além da compra da minha guitarra nova, a visita dos amigos do Porto e o passeio na Serra da Estrela. Eu tenho estado bem e tenho tido boas notas e espero que vocês também.
Um abraço para vós, para os vossos pais, para o Gil e para o primo Zé.

Manel Amoreira

PS: João, ouvi dizer que vais ter outro teste de matemática. Se tiveres, passa por cá. Ok?

We are the World - Michael Jackson, Ray Charles, Diana Ross, Bob Dylan,...

São Miguel Dos Gémeos



São Miguel dos Gémeos é uma pequena freguesia onde em tempos havia apenas uma capelinha dedicada a S.Miguel Arcanjo.
Diz uma lenda que junto a essa capela viveu um lavrador rico que cuja mulher deu á luz um par de gémeos monstruoso, pois nasceram com duas cabeças, quatro pernas e um só ventre. O casal teve um grande desgosto, tanto mais que foram os únicos filhos que lhe nasceram. Apesar de tudo, estas crianças foram-se criando e, desde muito pequenos, mostraram um amor profundo pelo campo. Por isso, dando tempo que viveram; trinta anos, seguido a lenda – trabalharam na agricultura, porem tendo um carinho inexcedível pela terra e pelas plantas.
Conta-se que na era em que morreram uma das cabeças faleceu três dias antes do resto do corpo. Nessa altura, os pais, que como já disse não tinham outros herdeiros, fizeram um testamento no qual legavam todos os seus bens à capela de S.Miguel, com a condição de se ficar chamado de S. Miguel dos Gémeos, em memória daqueles filhos estranhos e disformes que tinham tido.


“Lendas Portuguesas”; edição Multilar; autores Alberto Santos (investigação e textos de recolha)

Cristiano Cardina

Lenda da lagoa escura



De temer, mas linda era a lagoa escura. As águas enegrecidas permitiam um andarilhar sem fim da imaginação… ouve-se que está ligada ao mar, povoada de monstros… Era, então, que o escuro escurecia mais e assegurava a possibilidade de todas as crenças.
- Guarda muitos tesouros. Tantos que desafiavam a pobreza e quem por lá passa, bem queria aventurar-se… Mas poucos se atrevem. O risco de desaparecer para sempre aconselha a recuar.
- Também lá está um palácio!
-Contam que lá, no fundo, vive um rei muito, muito rico. Usa uma capa cravejada de diamantes. Vendeu sete cidades – SETE - para a poder pagar!
Eram preços com o sabor do impossível e as vozes tentavam:
- Se alguém conseguir fazer entrar no palácio uma cabra negra, na hora do sol a pino, será o senhor deste e de outros tesouros…
- Quais? Que tesouros?
- Os que queiras imaginar. Esses e muitos mais!
Assim povoada, a Lagoa Escura, temia-se, respeitava-se e venerava-se.
As raparigas, às vezes, à tardinha, aproximavam-se… Esperam um momento de solidão junto da água… Afasta-se uma, espreita outra, aproxima-se aquela…
Por causa da moura?
Sim. Da moura encantada que vive na Lagoa. Procurou refúgio na Serra da Estrela para um amor proibido. Os montes, as fragas seriam muralhas seguras para defender a sua felicidade. Esqueceu os ventos que levaram as suas vozes de ternura até aos ouvidos da Deusa Má, mensageira do infortúnio. Enraivecida, não permitiu que os fados se cumprissem: impediu a união entre a linda moura e um lusitano cristão. Roubou ao jovem a vida; depois arrastou para a Lagoa Escura o sofrimento e o pranto da donzela… As águas escurecem ainda mais, de tanta tristeza.
A moura lá está. Vive à espera de um guerreiro que a liberte da clausura, da solidão. Senhora de um grande amor guarda a esperança de poder renascer. As moçoilas da Serra querem avista-la e – quem sabe? – consolá-la, ouvi-la contar a sua história. A moura quer libertar-se... Por isso, quando um jovem mergulha nas águas da Lagoa, confronta-se com a angústia e a confiança da linda moura. Ansiando pela liberdade, chama, agarra, prende porque crê que é chegado o seu salvador.
E todos os que ousaram nadar naquelas águas, garante-se, desapareceram por um tempo sem fim. Um tempo medido pela duração da traição. A moura, sabe-se, não encontrou ainda o seu libertador…
Senhora de um amor infeliz é a confidente das jovens, das pastoras. Ali vêm, à tardinha. Imploram auxílio para desocultar caminhos onde possam viver amores felizes.
O sofrimento da moura ensinou-a a ouvir.
O conflito, na Lagoa mantém-se: entre a Deusa Má do infortúnio e a senhora do amor.
Por isso as águas da Lagoa Escura continuam escuras, tristes…


José Manuel Leiria Amoreira Nº16 Turma: 6º3