segunda-feira, 14 de março de 2011

Lenda da lagoa escura



De temer, mas linda era a lagoa escura. As águas enegrecidas permitiam um andarilhar sem fim da imaginação… ouve-se que está ligada ao mar, povoada de monstros… Era, então, que o escuro escurecia mais e assegurava a possibilidade de todas as crenças.
- Guarda muitos tesouros. Tantos que desafiavam a pobreza e quem por lá passa, bem queria aventurar-se… Mas poucos se atrevem. O risco de desaparecer para sempre aconselha a recuar.
- Também lá está um palácio!
-Contam que lá, no fundo, vive um rei muito, muito rico. Usa uma capa cravejada de diamantes. Vendeu sete cidades – SETE - para a poder pagar!
Eram preços com o sabor do impossível e as vozes tentavam:
- Se alguém conseguir fazer entrar no palácio uma cabra negra, na hora do sol a pino, será o senhor deste e de outros tesouros…
- Quais? Que tesouros?
- Os que queiras imaginar. Esses e muitos mais!
Assim povoada, a Lagoa Escura, temia-se, respeitava-se e venerava-se.
As raparigas, às vezes, à tardinha, aproximavam-se… Esperam um momento de solidão junto da água… Afasta-se uma, espreita outra, aproxima-se aquela…
Por causa da moura?
Sim. Da moura encantada que vive na Lagoa. Procurou refúgio na Serra da Estrela para um amor proibido. Os montes, as fragas seriam muralhas seguras para defender a sua felicidade. Esqueceu os ventos que levaram as suas vozes de ternura até aos ouvidos da Deusa Má, mensageira do infortúnio. Enraivecida, não permitiu que os fados se cumprissem: impediu a união entre a linda moura e um lusitano cristão. Roubou ao jovem a vida; depois arrastou para a Lagoa Escura o sofrimento e o pranto da donzela… As águas escurecem ainda mais, de tanta tristeza.
A moura lá está. Vive à espera de um guerreiro que a liberte da clausura, da solidão. Senhora de um grande amor guarda a esperança de poder renascer. As moçoilas da Serra querem avista-la e – quem sabe? – consolá-la, ouvi-la contar a sua história. A moura quer libertar-se... Por isso, quando um jovem mergulha nas águas da Lagoa, confronta-se com a angústia e a confiança da linda moura. Ansiando pela liberdade, chama, agarra, prende porque crê que é chegado o seu salvador.
E todos os que ousaram nadar naquelas águas, garante-se, desapareceram por um tempo sem fim. Um tempo medido pela duração da traição. A moura, sabe-se, não encontrou ainda o seu libertador…
Senhora de um amor infeliz é a confidente das jovens, das pastoras. Ali vêm, à tardinha. Imploram auxílio para desocultar caminhos onde possam viver amores felizes.
O sofrimento da moura ensinou-a a ouvir.
O conflito, na Lagoa mantém-se: entre a Deusa Má do infortúnio e a senhora do amor.
Por isso as águas da Lagoa Escura continuam escuras, tristes…


José Manuel Leiria Amoreira Nº16 Turma: 6º3

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