terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O Desejado

Em 1578, naquele dia de nevoeiro em Alcácer-Quibir, D. Sebastião abriu os olhos e reparou que a batalha tinha acabado. À sua volta viu muitos homens caídos. Eram os seus militares mortos ou moribundos. Levantou-se com esforço e começou a caminhar sem destino certo.
Durante dois dias e duas noites, D. Sebastião caminhou orientando-se pelo Sol e pela Estrela Polar, pois sabia que tinha de ir para Norte.
Depois de tanto caminhar, deixou as areias do deserto para trás e encontrou mercadores que também iam para Norte.
Não se distinguia dos mouros porque a sua pele estava escura devido ao Sol e à sujidade acumulada.
Ele ia com medo.
Só conseguia comida pedindo-a mas fingindo que era tonto e mudo para não se denunciar.
Finalmente, chegou a Tânger onde ficou por 2 anos.
Não se sabe como conseguiu, finalmente, meter-se num barco que o levou até Málaga. Aí, quase já se sentia em terra cristã.
Apressado, apanhou caminhos de mercadores para quem ia fazendo uns trabalhos em troca de comida e transporte.
A sua grande vontade era voltar para Portugal, de onde tinha ouvido notícias preocupantes: D. Filipe II, rei de Espanha, tinha invadido a sua terra. Tinha que decidir qual era o melhor lugar para passar a fronteira.
Decidiu entrar pelo Algarve, pois, não queria encontrar-se com espanhóis que patrulhavam as fronteiras alentejanas.
Bem tentou convencer que era D. Sebastião mas os algarvios são pessoas demasiado desconfiadas e só pensaram que ele fosse um louco.
Mas a certa hora, quando já estava desanimado, apareceu-lhe um covilhanense, de nome António, que lhe ofereceu boleia na sua carroça carregada de laranjas.
Puseram os cavalos bem a trote, pois, tinham ouvido que D. Filipe ia proclamar-se rei de Portugal.
Chegados a Santarém, o covilhanense, em troca a prometida recompensa, deixou de ir para a Covilhã e orientou os cavalos, a toda a brida, para Tomar.

Aí chegados, D. Sebastião, sempre seguido pelo covilhanense, procurou as Cortes.
À entrada, como os guardas impediam a passagem, não restou outra solução senão atacar com as laranjas.
Aproveitando-se da confusão gerada, D. Sebastião entrou e, aos gritos, conseguiu parar a coroação.
- Não há necessidade de coroar um novo rei, muito menos espanhol, porque eu estou aqui. Sou D. Sebastião, el-rei de Portugal!
Passados três minutos de silêncio, todas as Cortes se levantaram e ouviram-se grandes vivas a el-rei D. Sebastião.
E foi, assim, que em Portugal teria deixado de existir “O Desejado”.
E a Covilhã ficou com mais uma família nobre.



António José Santos
N.º 5 - 6.º3

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